Onde é que nasceu o tempo?

O tempo sempre existiu: surgiu no início do mundo e desaparecerá quando toda a existência chegar ao fim. Pode parecer difícil entender o tempo como algo abstrato, sempre unidimensional, perfeito e contínuo, mas quando olhamos para um relógio, percebemos imediatamente do que estamos a falar.

A própria história dos relógios começou há 5000 anos, quando alguém pensou em medir o período de tempo através do movimento do Sol. Tratava-se de um relógio de sol que só funcionava em dias de sol e, por isso, passado séculos, foi substituído pelo primeiro relógio mecânico que media o tempo através do nível da água.

Este tipo de relógio já começava a utilizar uma tecnologia que ainda hoje nos serve: tomar uma quantidade física (nível da água, quantidade de areia, oscilação do pêndulo) como o período de tempo necessário para a medir. Uma oscilação do pêndulo equivale a um período de tempo; sessenta oscilações podem ser combinadas e designadas por um minuto e, ao longo do tempo, são acrescentados nomes para períodos mais longos. Atualmente, o chamado padrão de césio, que corresponde a um segundo, é usado como unidade física básica.

Assim, esses números no relógio não são mais do que períodos que dividem o tempo ininterrupto e perfeito nas partes a que estamos habituados.

Tempo = dinheiro: o valor do tempo e do investimento

O tempo tornou-se uma das descobertas mais importantes para a humanidade. Atualmente, assemelha-se a uma moeda equivalente ao euro ou ao dólar. Em economia, o tempo é um instrumento de gestão e de organização que está na base da produtividade e da realização do potencial económico.

Parece que o mundo se tornou numa espécie de “viciado do tempo”. Tente imaginar uma grande indústria sem horários e planeamento do tempo. O que é que aconteceria? É isso mesmo, tudo se transformaria num caos. A eficiência estaria fora de questão. Este exemplo mostra o quanto a nossa vida moderna depende do tempo, ou melhor, da sua organização.

O tempo já tem um valor crescente como ferramenta útil, mas a sua escassez torna-o ainda mais valioso. E isto não se refere apenas à finitude do tempo em geral, mas também às limitações da vida humana. A mortalidade aumentou ainda mais o valor do tempo, tornando-o um recurso escasso.

Pensemos no filme «Sem tempo» (2011). Nesse mundo, o tempo torna-se uma moeda: ganha-se, paga-se e, quando o relógio do pulso marca zero, morre-se. No nosso mundo, aplica-se um princípio semelhante. Enquanto trabalhares, tens os recursos para viver, mas assim que perderes a capacidade de ser produtivo, perdes o dinheiro que garante a tua existência.

"Se eu tivesse tempo, não o desperdiçaria."
– Will Salas, «Sem tempo» (2011)

Tempo é dinheiro, mas dinheiro nem sempre é igual a tempo. Por isso, deve pensar bem antes de gastar este recurso valioso em algo que não lhe traz benefícios ou prazer.

Investir tempo

Sei que provavelmente já tem uma pergunta: “Se o tempo é tão valioso, como é que pode ser utilizado corretamente?” Imagine que é o seu ativo e que precisa de o investir.

Talvez nem se tenha apercebido, mas sempre foi um investidor. Uma simples decisão de ir dar um passeio, tomar um café ou tratar do trabalho é um investimento. Investimos o nosso ativo (tempo) e esperamos receber um retorno que depende diretamente desse investimento. A boa disposição, a sensação de energia ou as finanças são uma espécie de recompensa pelo tempo investido na atividade.

A primeira regra de qualquer investidor é compreender o lucro potencial. A análise do mercado, a avaliação da relevância ou das perspectivas de revenda - tudo isto ajuda a tomar uma decisão informada que não só preservará o ativo como também o aumentará. O mesmo se aplica ao tempo. Se pensarmos no seu valor potencial, podemos dizer que é quase infinito. Basta estar no sítio certo, na altura certa e fazer um bom investimento.

Ao tratar o tempo como um ativo, assumimos a responsabilidade pela sua utilização. Cada escolha exige um sacrifício - desistimos de todas as outras opções para nos concentrarmos numa coisa. Isto é especialmente importante para os jovens que têm muito tempo, mas que muitas vezes o gastam em coisas sem importância. Aprender a investir o tempo em negócios rentáveis é a chave para o sucesso.

Este foi um ponto de viragem para mim. Decidi: “O meu objetivo é investir ao máximo.” E embora este fosse o meu primeiro passo na ciência da gestão do tempo, infelizmente acabou por ser o passo errado...

Implacável falta de tempo

Muitas pessoas reclamam da falta de tempo. Parece que a escassez deste recurso mais valioso está a acompanhar o desenvolvimento da tecnologia. Apesar de a qualidade de vida ter melhorado e a esperança de vida ter aumentado, o tempo faz muita falta. É como um autocarro que parte no momento em que se chega à paragem. Por vezes, parece que o tempo é um companheiro sem coração das nossas vidas.

Sob essa pressão e “repressão” do tempo, surgiu um movimento daqueles que discordavam da sua transitoriedade. Assim, em metade do século XX, a gestão clássica do tempo surgiu e popularizou-se como uma ferramenta para aumentar a produtividade dos trabalhadores. As pessoas começaram a estudar o planeamento, as técnicas de gestão do tempo e as formas de alcançar uma maior eficiência.

Com o tempo, a gestão do tempo evoluiu para se tornar uma ferramenta individual que permite a cada um controlar o seu tempo. Atualmente, não é apenas popular entre as empresas, mas também ajuda as pessoas a gerir as suas próprias vidas para evitar esta escassez implacável.

Ferramentas de gestão do tempo

Ao longo dos muitos anos de gestão do tempo, foram inventadas muitas técnicas e métodos para ajudar a manter a concentração e aumentar a eficiência. Durante o tempo em que estive fascinado pela filosofia da gestão do tempo, pude familiarizar-me com algumas delas.

O método Pomodoro

Uma das técnicas mais famosas, baseada no simples princípio da eficiência. Estudos sobre o desempenho humano demonstraram que o nível mais elevado de concentração ocorre durante os primeiros 25-30 minutos de trabalho. Depois disso, a eficiência diminui e é necessário mais tempo e esforço para concluir as tarefas.

O método Pomodoro foi inventado pelo italiano Francesco Cirillo no final da década de 80. O nome do método vem de um temporizador de cozinha em forma de tomate (pomodoro é a palavra italiana para “tomate”). Baseia-se na alternância de curtos períodos de trabalho intenso e de descanso:

 • 25 minutos de trabalho,
 • 3-5 minutos de intervalo,
 • após quatro “tomates”
 - uma pausa de 15-30 minutos.
          

O método Pomodoro não só o ajuda a concentrar-se nos primeiros 25 minutos, como também mantém um elevado nível de eficiência ao longo do dia, graças a pequenas pausas regulares.

Matriz de Eisenhower

Esta ferramenta ajuda-o a dividir as tarefas em importantes e urgentes, determinando quais as que precisam realmente da sua atenção e quais as que é melhor delegar ou ignorar completamente. O método consiste em dividir todas as tarefas em quatro zonas utilizando uma matriz (quatro quadrados):

1. Importantes e urgentes

Tarefas que têm um prazo claro e exigem a máxima concentração. São tarefas prioritárias que têm de ser concluídas em primeiro lugar.

2. Importantes, mas não urgentes

Tarefas sem prazo definido, mas com grande potencial. Podem ser planeadas para o futuro, prestando atenção gradualmente.

3. Sem importância, mas urgentes

Tarefas com um prazo que não requerem o seu controlo nem a sua intervenção pessoal. Pode delegar estas tarefas noutras pessoas.

4. Sem importância e não urgentes

As coisas que não têm um impacto significativo na sua atividade. Deve livrar-se deles para poupar tempo e concentrar-se nas coisas realmente importantes.

A Matriz de Eisenhower é uma óptima ferramenta para estabelecer prioridades e evitar a perda de tempo com tarefas secundárias. A distribuição de tarefas de acordo com esta matriz ajuda a concentrar-se nos objectivos principais e a evitar cargas de trabalho desnecessárias.

Existem muitas mais ferramentas de gestão do tempo para planeamento, concentração e produtividade. No entanto, este é um tópico para um artigo separado, porque este artigo é sobre o tempo como o recurso mais valioso.

É possível explorar o tempo?

Parece-me interessante: “ Explorar um tirano...”. Ou melhor, o próprio tempo. Chegar a tempo para tudo e até ter algum tempo livre parece ser o ideal pelo qual uma pessoa moderna se esforça. Mas, hoje em dia, é frequente tentarmos fazer cinco coisas ao mesmo tempo ou planear tudo com antecedência, até ao último minuto. Chamo a isto “abuso da gestão do tempo”, e é um problema grave. Parece que as pessoas estão a tentar dominar o tempo, transformando-o no seu próprio criado.

Quando ouvi falar pela primeira vez de gestão do tempo, pareceu-me uma ideia incrível. No início, foi difícil entrar no ritmo, mas aos poucos fui-me envolvendo. E foi aí que o planeamento começou a fascinar-me, fiquei viciado nele porque queria ter controlo total sobre o meu tempo.

Mas o que é que “suficiente” significa para si? O paradoxo é que o “suficiente” cresce sempre com a realização. Assim, alcançar o que se considera “suficiente” torna-se uma busca interminável. Isto leva frequentemente ao excesso de trabalho, porque uma pessoa produtiva nunca terá o suficiente. E isso só leva a um círculo vicioso.

Por mais que se tente aproveitar ao máximo cada segundo, isso conduzirá sempre à frustração. O tempo não pode ser explorado ou completamente subjugado. Em vez disso, é importante aprender a coexistir com ele em harmonia, compreendendo as suas verdadeiras prioridades e não tentando fazer tudo ao mesmo tempo.

A essência do tempo

Então, a que é que chegámos? Nunca há tempo suficiente e temos de o aceitar? Penso que não.

Passou um ano desde que li o livro 4000 Weeks: Time Management for Mortals. No início, não lhe dei muita importância porque contradizia a minha ideologia na altura. Mas só agora me apercebi de que Oliver Berkman tinha razão.

Durante a minha busca pela essência do tempo, fiz muitas tentativas. Tentei fazer tudo a tempo, planear cada passo, até mudar o meu horário de sono. Acabei por perceber que a conquista do tempo não leva a nada.

Por vezes, a corrida a que erradamente chamamos “vida” não é vida de todo. É fisicamente impossível fazer tudo. Peço desculpa por esta conclusão, mas é verdade. Muitas vezes parece que as pessoas trabalham como se fossem viver para sempre, esperando pelo momento em que terão dinheiro suficiente, sem preocupações, e poderão relaxar durante todo o dia. Mas isso não é absurdo?

"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."
– Jim Brown

Acordar todos os dias a pensar que este dia vai ser exatamente igual ao anterior, tudo em nome de um futuro ilusório. Mas e se esse momento nunca chegar? E se, em vez disso, chegar a velhice, a doença ou o cansaço?

Aceitem, como escreve Oliver, a vossa finitude. Só temos 4000 semanas, e é tudo o que temos. Se tiveres mais de 20 anos, subtrai cerca de 1000 semanas. Acrescente que um terço do seu tempo será gasto a dormir, outras 600 semanas serão gastas a trabalhar, 200 semanas em transportes, 150 semanas em alimentação, 70 semanas em espera e inatividade, e não se esqueça da higiene, doença e outras actividades diárias. Restam-lhe apenas 800 semanas - aquilo a que se pode chamar uma vida real. Como é que as vai utilizar?

Somos apenas um momento neste mundo, e 800 semanas não é assim tanto tempo. Mas as pessoas continuam a perseguir a produtividade até se aperceberem de que não há mais tempo e que não há como recuperá-lo.

É doloroso apercebermo-nos disso, mas a vida é limitada pelo tempo. Por isso, pergunte a si mesmo: está a gastá-lo nas coisas realmente importantes? Desperdiça a sua vida nas redes sociais ou em trivialidades, e depois queixa-se de que não tem tempo para nada?

"Não podemos parar o fluxo, mas podemos direccioná-lo."
– Autor do artigo

Planeie os seus dias para que não sejam secos e monótonos. Deixe-os repletos de alegria e de momentos inesquecíveis. Ao acordar, aprecie o nascer do sol, o tempo com a sua família, os passeios na natureza ou um delicioso pequeno-almoço.

Até o trabalho deve ser um prazer. Tente encontrar algo de bom no seu trabalho. E se não conseguir, talvez seja altura de mudar.

Só se vive uma vida, e não se pode vivê-la uma segunda vez. Só tem uma oportunidade de utilizar o seu tempo de uma forma que o torne inesquecível.