Esquecido
Tinha cerca de dez anos quando fui com a minha turma para um acampamento de verão, noutra região do país. O campo organizava, de tempos a tempos, viagens à praia, a cinco quilómetros dali. Num desses dias, entrámos todos no autocarro e partimos.
Passámos horas a brincar junto ao mar, até que fui à casa de banho. Quando voltei — o autocarro já tinha partido.
É difícil imaginar algo mais aterrador para uma criança do que ser esquecida, longe de casa, sem pais, num local desconhecido. Foi nesse momento que o medo chegou. Vi o autocarro afastar-se, sabendo que não conseguiria alcançá-lo. Estava em pânico.
Mas decidi: o medo não ia ajudar. Em vez disso, comecei a procurar o caminho de volta. Segui as ruas que parcialmente reconhecia das viagens anteriores. Uma hora depois, escalava uma vedação familiar — e estava de novo em segurança.
E se não tivesse tido coragem? Se tivesse ficado parado? Talvez tudo tivesse terminado muito pior.
Já o Conheces?
Desde pequenos, os nossos pais ensinam-nos a distinguir entre segurança e perigo. Assim aprendemos a ter medo — e a reconhecer ameaças reais.
Se alguém perguntar onde «vive» o medo, podes responder com segurança: na amígdala cerebral. Quando esta área do cérebro é danificada, desaparece o medo — mas não as outras emoções. À primeira vista, parece vantajoso. Na verdade, é um risco enorme: essas pessoas não reagem ao perigo, ignoram serpentes, atravessam ruas sem cuidado, quebram regras básicas de sobrevivência.
O medo — ou melhor, a prudência que ele ativa — ajudou a humanidade a sobreviver e a evoluir. Recordemos o instinto mais primitivo do ser humano: evitar dor e procurar prazer — princípio que ainda rege muitas das nossas decisões.
«Aprendi que coragem não é a ausência de medo, mas sim vencê-lo.»
— Nelson Mandela
Então, se o medo é tão essencial, porque queremos livrar-nos dele? Um exemplo ajuda a explicar: perguntaram a um especialista em minas se ele temia uma explosão. Ele respondeu: «Sim, tenho.» E acrescentou: «Se não tivesse medo, já estaria morto.» O medo ajuda a manter a atenção e a precisão nas ações. Quando o superamos, mantemo-nos alerta e conscientes.
A companhia do Medo
O medo assume várias formas. Em certos contextos, é vital — noutros, é apenas um obstáculo.
Tipos de Medo
Entre muitas classificações, prefiro dividi-los em medo real e medo imaginário.
Medo real: resposta a uma ameaça concreta, com consequências reais.
Medo imaginário: reação rápida, muitas vezes irracional, a um estímulo sem perigo verdadeiro.
O medo imaginário aparece, em geral, sob três formas:
Medo da Crítica
É o receio de ser julgado ou mal interpretado. Surge em conversas sérias, ao defender opiniões, ao mostrar vulnerabilidade.
Mas a crítica — quando é construtiva — pode ser uma ferramenta poderosa para o crescimento. E a crítica infundada diz mais sobre quem a faz do que sobre quem a recebe.
Medo do Fracasso
Evita-se o novo por medo de falhar. Está muitas vezes ligado à baixa autoestima. Mas a verdade é que a maioria dos desafios é superável, se houver empenho. E mesmo quando falhamos, o processo torna-nos mais fortes e prepara-nos para o futuro.
Medo da Mudança
O futuro desconhecido assusta. Nova cidade, novo emprego, novas responsabilidades — tudo isso pode travar-nos. Mas são as mudanças que criam novas oportunidades. Dizer «não» a algo novo apenas por conforto impede o crescimento pessoal.
De Que Tem Medo o Medo?
Combater o medo não é fácil — ele instala-se no subconsciente e condiciona o comportamento. Mas há solução. O medo é um ciclo de reações automáticas, reforçado com o tempo. Se mudares a tua resposta, ele enfraquece.
Exemplo: Tens medo de falar com desconhecidos? Começa com um simples «Olá» a três estranhos. Depois pergunta «Está tudo bem?» a três colegas. Vai aumentando gradualmente a dificuldade. Em breve, estarás a entrar no gabinete do chefe sem medo — para falar sobre uma promoção.
Domar o Medo
Um dos meus livros preferidos é Tame the Tiger: Go Where You’re Scared and That’s Where You’ll Find Your Dreams, de Jim Lawless. O autor compara o medo a um tigre: cada passo em frente, cada ação apesar do medo, torna o tigre mais pequeno — até que se transforma num gato domesticado.
«A única coisa que devemos temer é o próprio medo — um terror irracional, sem rosto, que paralisa o esforço necessário para transformar a retirada num avanço.»
— Franklin D. Roosevelt
O medo, quando nasce de ameaças imaginárias, é perigoso pelos efeitos que provoca. Mas pode ser vencido. E quando o é — dá lugar aos sonhos que sempre estiveram escondidos atrás das nossas próprias barreiras.